terça-feira, 21 de abril de 2009

APOLOGIA

A partir do Festival de Inverno de 1969, a Pulgatório passou a estar envolvida com tudo que dizia respeito a teatro na cidade de Ouro Preto. Ainda naquele Festival tivemos a oportunidade de apresentar um jogral denominado Apologia. Posteriormente este mesmo espetáculo foi apresentado na Semana do Doze daquele ano, através do TEMOP – Teatro da Escola de Minas de Ouro Preto. A primeira apresentação deu-se em pleno festival, exatamente no dia em que os norte-americanos pisaram na lua. A peça, no festival um curto jogral, fazia uma retrospectiva jocosa entre a descoberta do Brasil e a chegada à lua. Feita a apresentação, fomos tomar uma, porque afinal, ninguém é de ferro. E todo mundo sabe que uma nunca é uma!!! Depois, precisávamos de alguma coisa para acalmar o estômago. Fomos ao Irineu.

Naquela época, só havia dois botecos em Ouro Preto que ficavam até mais tarde e serviam alguma coisa além de pinga: um ficava no Largo da Alegria e servia um caldo de mocotó que levantava até defunto; o outro era o Irineu, no começo da subida da rua Direita. O Irineu, apesar de toda a sua falta de higiene, preparava um sanduíche de queijo Minas que era irresistível – eram quase cem gramas de queijo derretido no pão francês. Enquanto comíamos comentávamos com o Irineu sobre a chegada do homem à lua, que foi o primeiro evento internacional transmitido em tempo real pela televisão. Irineu, gago de nascença, contestava tudo o que era dito:
- Qui...qui...qui..qui eu num...num credito nisso não!
- Mas Irineu, nessa hora eles estão lá na lua vendo a gente aqui em cima na terra.
- Ce...cê pensa qui..qui eu sou bobo? Se..se eles tiverem na lua, tão veno a gente é quim baixo!
Irineu enriqueceu, sabe-se lá como e mudou-se para Cachoeira do Campo. E morreu sem acreditar que os norteamericanos tenham chegado à lua. Ou pelo menos que tenham visto nós aqui em cima.

Kelé, ex-aluno, durante muitos anos responsável pelo teatro da Escola de Minas, resolveu levar “Apologia” para o Doze daquele ano. Mas a peça não era o estilo a que os estudantes estavam acostumados. A galera gostava era de algo escrachado, que ironizasse a Escola e, principalmente, os professores que criavam maiores dificuldades para os alunos. Mesmo topando a parada, temíamos que não houvesse interesse do público. Resolvemos isto através da propaganda da peça. Dias antes e nos dias de apresentação, distribuímos pela cidade um panfleto com os dizeres:

- Apologia é superação;
- ...
- É extra-introspectivo;
- ...
- Tem um colorido panteístico;
- ...
- Atinge as raias da reflexologia;
- ...
- Está prevista pela teoria quântica;
- ...
- Apologia é a libertação do hipocondrismo;
- ...
- É o sufocamento do totum da edipomania;
- Hummmm!!
- Apologia é o quantum ibopiano;
- Ahhhhhhh!!
- Apologia é válida, comunica e está inserida no contexto!
- Eh, mas o autor é bicha!

O teatro encheu nos dois dias de apresentação, não por causa da peça, mas sim porque queriam saber se realmente o autor era bicha.

Caiafa

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